Introdução
As quatro etapas abaixo discutem as formas de vida em formações cavernícolas e as particularidades da diversidade vegetacional e faunística nesses ambientes. Por causa da ausência de luz, muitas espécies vêm desenvolvendo processos adaptativos para a manutenção de vida, o que permite a existência de relações únicas com o meio.
Objetivos
Compreender como ocorre a formação de cavernas;
Despertar o interesse para a pesquisa sobre a biodiversidade em cavernas;
Reconhecer a existência de biodiversidade dentro de cavernas;
Reconhecer as particularidades dos seres vivos que habitam cavernas.
Conteúdos
Formação de cavernas;
Diversidade de fauna em cavernas;
Manutenção da biodiversidade em cavernas.
Anos
3º ao 5º ano
Tempo estimado
Quatro aulas.
Material Necessário
Cadernos, lápis, canetas, borrachas, lápis de cor, canetas hidrográficas, papel pardo, cola branca, cópias de imagens. Computador com acesso à internet, dicionários de Língua Portuguesa.
Texto de apoio ao professor Cavernas
Existem diferentes teorias sobre a origem das cavernas. É possível que tenham surgido com a dissolução e a abrasão causada pelos movimentos das águas subterrâneas. Já outras podem ter se formado devido aos desmoronamentos de partes do teto ou com o abatimento de assoalhos que recobriram galerias inferiores. Outra possibilidade é a que ocorre no nível do lençol freático ou abaixo dele, com a movimentação da água atravessando fissuras ou pequenas aberturas, quase sempre de rochas calcárias, menos resistentes. A subida e descida do nível do lençol freático também atuam nesse sentido, desgastando as rochas e possibilitando o aparecimento de novas fendas.
As cavernas estão geralmente em áreas com formações calcárias, pois a água penetra nesse calcário através de fraturas, dissolvendo a rocha em sua percolação. O movimento da água nos calcários é controlado pelas variações litológicas e pelas linhas de falha e de fratura.
Sobre a circulação da água subterrânea, distinguem-se duas zonas: na zona superior, ou zona vadosa, na qual a água circula livremente e de modo rápido, e, na inferior, ou zona freática, na qual a água circula sob pressão hidrostática e todas as fissuras e juntas estão preenchidas. Em ambas as zonas, a água tende a coletar-se em canais bem definidos e a movimentar-se como um sistema subterrâneo.
Fonte:
Ambiente Brasil
Glossário
Abrasão: Desgaste por atrito; efeito de um abrasivo.
Fonte:
Aurélio
Percolação: Passagem lenta de um líquido através de um meio filtrante. Método de extração ou purificação por meio de filtros. Processo de extrair os constituintes solúveis de uma droga pulverizada, fazendo passar por ela um líquido.
Fonte:
Dicionário Online de Português
Conceitos importantes
Carste - tipo de paisagem criada pela água quando a chuva ou os rios recebem substâncias químicas presentes no ar ou em solos cobertos por vegetação abundante. Essas águas adquirem, então, a capacidade de dissolver lentamente determinados tipos de rochas, como o calcário, formando cavernas, rios subterrâneos.
Cavernas - uma caverna pode ser definida como um leito natural subterrâneo e vazio, podendo se estender vertical ou horizontalmente e apresentar um ou mais níveis. Com o passar do tempo, as cavernas vão se alargando, chegando a formar salões altos. Os rios subterrâneos são de grande importância no transporte de alimentos para os seres vivos que ali habitam, além de transportarem sedimentos como areia e argila que formam o solo das cavernas. Todas as formas de acumulação encontradas nas cavernas recebem o nome genérico de travertino. Existem também, dentro das cavernas, um entremeado de câmaras e passagens estreitas.
Espeleotemas - são formações minerais que ocorrem em cavernas, como estalactites, estalagmites, colunas, cortinas, entre outras. Apresentam cores, formas e dimensões que dependem da morfologia de cada gruta, do tipo de mineral depositado e do mecanismo de deposição.
Estalactites e estalagmites - são dois tipos de espeleotemas. O principal mineral formador desses e de outros espeleotemas é a calcita. As estalactites e as estalagmites se formam com o gotejamento de água saturada em calcita, ao longo de sua infiltração em rochas calcárias. A estalactite forma-se do teto para baixo, pela superposição de anéis de calcita. E a estalagmite "cresce" do piso da caverna para cima, bem embaixo da estalactite, com o gotejamento de água saturada em calcita que se precipita da estalactite. Quando a estalactite se junta com a estalagmite, forma-se um outro espeleotema chamado coluna. A velocidade de crescimento das estalactites varia entre 0,01 mm a 3 mm por ano.
Cascatas - ao escorrer pela parede rochosa da gruta, a água vai depositando calcita durante seu percurso descendente. Tais depósitos são denominados cascatas, devido a sua forma e cor, geralmente alvíssima. Essas superfícies normalmente são lisas. Constituem um depósito uniforme da parede até o chão da gruta; porém, em alguns casos, pode terminar por estalactites formadas a partir das bordas, dando um aspecto semelhante ao de um órgão.
Fonte:
Ambientes Brasil
Desenvolvimento
1ª etapa
Introduza o assunto sobre cavernas questionando os alunos sobre o que sabem sobre cavernas. Podem ser feitas as seguintes perguntas para a turma: o que são cavernas? Como imaginam uma caverna? Quem já esteve em uma caverna? Como foi, o que pôde observar? Deixe que exponham suas impressões e anote as respostas no quadro para produzir uma lista de palavras-chave. Releia com eles essa seleção de termos, que será revista ao final desta sequência com uma discussão sobre quais eram as impressões iniciais e o que foi apreendido com as atividades.
Leia para a turma o texto que segue. Peça novamente que anotem as palavras desconhecidas, para procurar seus significados.
Texto para o aluno Cavernas: o fascinante Brasil subterrâneo
Não se visitam cavernas impunemente. Ali tudo é diferente, belo e novo. Como uma das últimas “fronteiras” de nosso planeta, pode-se ainda experimentar o prazer incomum de penetrar em recantos onde nenhum outro ser humano adentrou sem pegadas à frente.
Nesses mundos de silêncio e trevas não há estações do ano, a vegetação superior inexiste por falta da luz solar e o próprio tempo parece fossilizar-se. Um lugar onde é tanto o silêncio, que nosso cérebro, com seus irrequietos neurônios, faz-se ouvir como se fosse uma fábrica, fabricando sonhos.
Ali, nossa imaginação é pequena perante os belos e intrincados cristais de pedra que imitam flores e crescem em todas as direções, perante animais albinos e cegos que vencem todas as hostilidades do meio: é a vida insistindo mesmo onde a luz desistiu de chegar. Tudo isso se expondo além dos grandes pórticos ou de simples e estreitos orifícios na montanha. Assim, pela sensibilidade, pela curiosidade cientifica e pela atração da beleza, somos contaminados inevitavelmente pelo chamado “vírus espeleológico”, uma espécie de febre benigna que apresenta entre seus sintomas a necessidade de se conhecer novas cavernas, estudá-las, sistematizar esses conhecimentos e divulgá-los contaminando assim mais e mais pessoas.
Fonte: Clayton F. Lino, Cavernas: o fascinante Brasil subterrâneo (Apresentação), 2ª edição. Ed. Gaia, 2001.
Após a leitura e a discussão sobre as palavras desconhecidas, peça que formem grupos de quatro a cinco integrantes. Cada grupo deverá receber uma cópia dos mapas abaixo. O primeiro indica a localização das principais cavernas turísticas do Brasil e o outro tem a delimitação dos estados do país.Peça a cada grupo que compare os mapas e localize em quais estados estão as cavernas. Solicite, então, que escolham um estado brasileiro com cavernas turísticas para fazer uma pesquisa sobre esses ambientes. Mesmo que os grupos escolham um mesmo estado, podem levantar dados sobre cavernas e grutas diferentes e apresentar esse estudo na próxima etapa desta sequência. O site
Portal São Francisco relaciona as principais cavernas turísticas do país.
Mapa com cavernas do Brasil
2ª etapa
Organize a sala de acordo com os grupos de trabalho da etapa anterior. Deixe que cada um deles apresente as informações trazidas sobre as cavernas e as grutas existentes dentro do estado escolhido. Durante a apresentação, aproveite para explicar à turma os significados das divisões sobre as cavernas turísticas no Brasil (turismo regular, turismo de massa com iluminação, uso religioso etc.).
Incentive a troca de ideias entre os alunos. Questione-os sobre o que imaginam existir dentro dessas cavernas, que tipo de vida pode se desenvolver em um ambiente cavernícola.
Com apoio de um computador, com acesso a internet, coloque o vídeo do Reporte ECO - A biodiversidade das cavernas brasileiras - (TV Cultura), disponível
neste link . Caso não seja possível assisti-lo, o
link tem a transcrição da reportagem.
Após assistirem ao vídeo ou lerem a narrativa, pergunte quais características das cavernas e da vida nelas chamam mais a atenção. Verifique se há alguma palavra desconhecida e esclareça seu significado.
Distribua o texto abaixo e folhas de papel sulfite, lápis de cor e canetas hidrográficas para os grupos e peça que desenhem os animais e as plantas que imaginam existir dentro de cavernas, de acordo com o que foi visto até o momento. Quando terminarem, solicite que apresentem e explique os desenhos feitos ao resto da turma.
Texto para o aluno Cavernas
O mundo cavernícola é considerado um dos mais peculiares e estáveis existentes na biosfera. A capa rochosa resguarda as cavernas das variações climáticas bruscas da superfície, o que dá ao ambiente características próprias que possibilitam a biodiversidade em seu interior.
A primeira e principal característica das cavernas é a completa ausência de luz nas zonas mais profundas. Entre inúmeras consequências disso, ressalta-se o fato de que nessas áreas não se podem desenvolver as plantas verdes que são a base das cadeias alimentares na maioria dos ecossistemas da superfície. Esse fato, entre outros, propicia a existência de uma fauna cavernícola especializada e, por vezes, com significativas diferenças morfológicas, fisiológicas e comportamentais.
Fonte:
Sociedade Brasileira de Espeleologia
3ª etapa
Retome o assunto e questione-os sobre a existência de vida dentro de cavernas, relembrando o que já foi lido, assistido e discutido. Leia com a turma o seguinte trecho:
Texto para o aluno Meio epígeo e meio hipógeo
Chamamos de meio epígeo o ambiente externo à caverna e de hipógeo, ou cavernícola, o meio subterrâneo. O interior das cavernas pode ser dividido em três zona: a zona de entrada, situada próxima à abertura da caverna, na qual as características climáticas são semelhantes às do meio externo e os raios de luz incidem diretamente; a zona de penumbra, que corresponde à região na qual a luz incide de forma indireta e as temperaturas começam a se tornar mais amenas, ao mesmo tempo em que a umidade aumenta; e a zona afótica, caracterizada pela ausência de luz, baixas temperaturas e umidade relativa do ar próxima de 100%.
Fonte:
UOL Educação
Questione-os sobre onde será possível encontrar plantas e animais dentro de uma caverna, pensando na divisão existente no interior delas. Incentive a discussão de acordo com as respostas dadas. Inclusive, se necessário, relembre-os da necessidade da luz para manutenção de espécies vegetais.
Organize-os em grupos e distribua para cada um deles o texto que segue:
Texto para o aluno Flora das cavernas
A flora existente no interior de uma caverna relaciona-se, principalmente, com a quantidade de luz existente, distribuindo-se assim pelas três principais zonas da gruta.
A zona de entrada (ou zona de claridade), onde penetra grande quantidade de luz, permite o desenvolvimento de plantas clorofilinas, que necessitam da luz solar para realizarem as suas funções vitais. São frequentes fungos e vegetais, como as heras, hepáticas, musgos, algas e líquenes. Esses organismos precisam de pequenas quantidades de terreno para se fixar e de muita umidade. Grutas com grandes aberturas e entrada de luz abundante podem até desenvolver vegetais do tipo arbustivo, embora nenhum desses grupos botânicos necessite da gruta para viver, estando lá apenas por casualidade.
Na zona de penumbra, mais no interior das cavidades, a luz fica escassa, o que não permite a existência de vegetais clorofilinos, à exceção de algumas algas verdes que conseguem subsistir com quantidades de luz muito reduzidas. É também natural encontrar plantas clorofilinas, cujas sementes entram no interior da gruta por acidente, levadas por correntes de ar ou transportadas na pele ou patas de animais, originam plantas frágeis com sinais típicos de fototropismo (inclinação em direção à luz). Essas formas de vida têm, em geral, baixa sobrevivência. Nessa zona, desenvolvem-se ainda alguns fungos, embora não tenham grande capacidade de proliferação, devido à falta de matéria orgânica no substrato ou à acidez das argilas.
A zona afótica (ou zona escura), onde a luz está completamente ausente, permite apenas a existência de uma rica flora bacteriana e alguns raros fungos que se fixam no guano (fezes de morcego) e sobre o corpo de organismos, em especial insetos. A flora bacteriana tem um papel preponderante na decomposição do guano e na alimentação de alguns outros organismos, tais como ácaros, colembolos etc. Quanto aos vegetais, tal como na zona de penumbra, existe a possibilidade de germinação de sementes e esporos. Mas essas formas de vida estão condenadas a uma morte quase imediata devido à extrema adversidade do meio.
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br
Ao final da leitura, solicite que digam se alguma informação ou palavra do texto não ficou clara. Como esse tema traz um vocabulário desconhecido para a maioria dos alunos, é preciso produzir um breve dicionário de termos contidos nessa sequência, de maneira a esclarecer as dúvidas dos alunos, ou mesmo produzir com eles um dicionário de termos cavernícolas.
4ª etapa
Retome o assunto da existência de vida dentro das cavernas, explicando que agora será preciso pensar em quais tipos de animais podem existir dentro do ambiente cavernícola. Sugira a construção de um painel de imagens com a fauna cavernícola e a descrição de curiosidades sobre esses animais. Leia o texto a seguir com a turma.
Texto para o aluno Fauna das cavernas
Os organismos cavernícolas podem ser classificados em três categorias de acordo com sua distribuição e utilização de recursos:
1.
trogloxenos, espécies encontradas regularmente no interior das cavernas para completarem os seus ciclos de vida e/ou utilizá-las como abrigo, por exemplo, os morcegos e as aves;
2.
Troglófilos, espécies que ocorrem tanto no meio externo quanto no interior da caverna (hipógeo) e podem completar os seus ciclos de vida em um ou em outro ambiente, podem ser incluídos os grilos, as baratas, os opiliões, algumas aranhas, besouros, moscas e mosquitos, entre outros;
3.
Troglóbios, espécies restritas ao ambiente cavernícola que desenvolveram adaptações especiais adquiridas ao longo do tempo evolutivo e, que não conseguiriam sobreviver fora do ambiente cavernícola, como é o caso de poucas espécies de pseudoescorpião, besouro carabídeo, pequeno crustáceo isópoda. Esses últimos apresentam algumas especializações morfológicas como a despigmentação, atrofia nos órgãos de visão, hipertrofia nas estruturas mecanorreceptoras e quimiorreceptoras, entre outras.
Ainda divididos em grupos, solicite que escolham uma categoria de animais, conforme as que foram apresentadas no texto. Caso os temas de pesquisa se repitam entre os grupos, organize-os de maneira que cada um escolha um ou dois animais para desenvolver o trabalho.
Distribua o papel pardo, lápis de cor, canetas hidrográficas, imagens de animais cavernícolas, cola etc. É importante levar para a turma imagens desses animais e material bibliográfico de pesquisa, contendo a descrição das características. Se for possível, use o laboratório de informática para que os próprios alunos procurem na internet imagens e descrições desses animais.
Avaliação
Avalie a participação dos alunos, o desenvolvimento dos trabalhos em grupo, a cooperação e troca de ideias. Com base nas atividades realizadas, verifique o domínio dos novos conceitos aprendidos durante as aulas. Questione-os novamente sobre a vida dentro das cavernas e verifique se compreenderam que a manutenção da vida é possível com o desenvolvimento de processos adaptativos. Retome as palavras-chave anotadas na lousa na primeira etapa e discuta com a turma se elas permanecem as mesmas, quais podem ser acrescentadas e quais podem ser descartadas.
Quer saber mais?
Clayton F. Lino. Cavernas: o fascinante Brasil subterrâneo. 2ª edição. São Paulo. Ed. Gaia, 2001.
Dessen, E. M. B., Eston, V. R., Silva, M. S. Beck, M. T. T. e Trajano, E. 1980. Levantamento preliminar da fauna de cavernas de algumas regiões do Brasil. Ciência e Cultura 32(6): 714-725.
Gnaspini-Netto, P. 1989. Análise comparativa da fauna associada a depósitos de guano de morcegos cavernícolas no Brasil. Primeira aproximação. Revta. bras. Ent. 33 (2): 183-192.
Godoy, N. M. 1986. Nota sobre a fauna cavernícola de Bonito, MS. Espeleo-Tema 15: 80-92.
Pinto-da-Rocha, R. 1995. Sinopse da fauna cavernícola do Brasil (1907-1994). Pap. Av. Zool. 39(6): 61-173.
Trajano, E. 1987. Fauna cavernícola brasileira: composição e caracterização preliminar. Revta. Bras. Zool. 3(8): 533-561.